A América do Sul enfrenta o problema do avanço de organizações criminosas transnacionais (OCTs). Essas organizações têm poderes coercitivos, impostos com o narcotráfico, tráfico de armas e os atentados à vida, deixando as esferas do aparato burocrático subjugado para benefício próprio e acarretando em imbróglios para a governança estatal. A Colômbia é um país com diversas OCTs ativas, como as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o Exército de Libertação Nacional (ELN). O ELN é um grupo de esquerda que iniciou uma luta armada contra o aparato burocrático colombiano em 1960, inicialmente em defesa dos civis, mas depois esses civis passaram a ser alvos da organização (Ferreira; Júnior, 2014). Desta forma, o Estado da Colômbia tentou negociar O Acordo Final para a Terminação do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura, assinado entre o governo colombiano e as FARC em 2016, acarretando na fragmentação dessa OCT e abrindo caminho para o ELN reconfigurar o cenário das organizações criminosas colombianas a seu favor (Campbell, 2017).

Não obstante a atuação das OCTs tenha se tornado uma preocupação generalizada, a definição delas e do próprio crime organizado não são unânimes na literatura. O crime organizado é praticado por organizações que detêm atributos políticos, técnicos e organizacionais dentro do âmbito estatal, desempenhando ações lícitas e ilícitas. OCTs praticam esse crime de forma internacionalizada, atuando em vários países, influenciadas pelo capitalismo, por meio do contrabando e da violência organizada (Cepik; Borba, 2012).

O ENL é oficialmente liderado por um “Congresso Nacional” que se reúnem a cada cinco anos. Suas ações cotidianas são chefiadas por um comitê executivo, o “Comando Central” (COCE), que é fiscalizado por 20 comandantes militares regionais do ENL, a “Direção Nacional” (DINAL). Essa estrutura é responsável por guiar e ditar as ações da organização (Ellis, 2021).

O ENL utiliza de seu poder burocrático adquirido nos anos 90, ao realizar sequestros de civis e agentes governamentais, tráfico ilegal de drogas e violência generalizada para driblar e influenciar o Estado a tomar ações que as beneficiam, facilitando sua expansão e fixação no território e no comércio supranacional ilegal de drogas (Naugara; Pautasso, 2020). Nesse mesmo período, extorquiram companhias de petróleo, que atuavam nas planícies da Colômbia, conhecidas como Planícies Orientais, proporcionando uma fonte de renda lucrativa para a organização. Sua forma descentralizada de estrutura permitiu ao grupo adaptar um modelo de receita adaptado às oportunidades criminosas em cada estado que atuavam, chegando a cobrar “impostos de guerra” sobre a produção de cocaína e maconha. Sofreram ataques de grupos paralimitares e militares da Colômbia, principalmente no departamento de Bolívar. Essas situações foram responsáveis por moldar a estrutura, forma de ação, caráter e a localização do grupo (Ellis, 2021).

O estado colombiano propôs o Acordo Final para a Terminação do Conflito e a Construção de uma Paz Estável e Duradoura em 2016, buscando diminuir a violência generalizada, o tráfico de drogas e a dissolução das FARC (Campbell, 2017). No entanto, essa medida não obteve sucesso, visto que novos grupos armados organizados surgiram, como as conhecidas Bandas Criminales (Bacrim), uma facção dissidente das FARC, embora em 2019 a guerrilha tenha sido "refundada" (Taquece; Mercadante, 2020).

A ELN expandiu sua área de influência e atividades para novas regiões, encontrando novos rivais que entraram em disputa pelo espaço deixado pelas FARC. Com isso, o acordo não conseguiu reduzir os níveis de violência armada nem o tráfico de drogas, mas sim o aumento desses (Taquece; Mercadante, 2020). Em razão disso, a pergunta que norteará este estudo de casos é: como o ELN se reestruturou após o acordo de paz entre o governo colombiano e as FARC e expandiu a influência no território colombiano?